No mundo efêmero do pop contemporâneo, Doja Cat conseguiu uma façanha: permanecer no radar. Talvez seja pouco dizer isso da artista de Los Angeles que surgiu em 2014 com o EP de estreia, Purrr!, e chamou atenção com o primeiro álbum, o elogiado Amala (2018). Desde então, a cantora se mantém relevante, com timbres minimalistas, um flow sedutor, referências azeitadas do universo soul jazz e letras com ironia e humor sofisticados. A irreverência, aliás, é marca registrada da cantora, que viralizou em 2018 com o single “Mooo!” – um R&B cheio de estilo, onde ela canta a partir da perspectiva de uma vaca (e se fantasia como uma no videoclipe da música) – e arrebatou a internet em plena pandemia ao lado de Nick Minaj com o single “Say So” (2020). Difícil imaginar que todo esse repertório saiu da cabeça de uma menina insegura de 15 anos, que cresceu ouvindo D'Angelo, Jamiroquai e Erykah Badu e largou a escola para cantar escondida no quarto. Em pouco tempo, Amala Ratna Zandile Dlamini aprendeu a mexer no GarageBand e, envergonhada, começou a postar suas produções na internet. Entre essas criações nasceu, em 2012, “So High”, e, com isso, a cantora de 17 anos saiu, enfim, do anonimato. A adolescência ficou para trás e deu lugar a uma artista ousada e irreverente, que, com os dois pés no rap, rima e transita com elegância por outros ritmos, como o R&B e o neo soul, sem abrir mão do pop, é claro. As parcerias variadas também são prova da democracia sonora da cantora: somente no álbum Planet Her (2021), ela reuniu nomes de diferentes universos, como Young Thug (“Payday”), Ariana Grande (“I Don't Do Drugs”) e SZA (“Kiss Me More”). Sozinha ou bem-acompanhada, Doja Cat mantém o nível lá no alto, e, com sua persona meio diva, meio gangsta, segue sendo uma agradável surpresa.